quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Direto do FinalSports: Vice de Finanças acredita que parceria com torcida pode sanar o Grêmio em um ano



Em entrevista ao Final Sports, o vice-presidente de Finanças e membro do Conselho de Administração do Grêmio, Irany Sant’anna Júnior, esclareceu alguns pontos sobre as dívidas do clube e os projetos para torná-lo equilibrado financeiramente outra vez.

De acordo com o dirigente, a parceria da torcida é fundamental e o objetivo pode ser alcançado num prazo de um ano, caso ela participe efetivamente das novas ações do Tricolor. Confira abaixo os principais assuntos.

Importância da torcida

“Se o Grêmio é forte e grande, com 106 anos de história, é por causa de sua torcida. Se a marca do clube é reconhecida e impõe força é porque temos 8 milhões de pessoas atrás de nós, com o coração vinculado ao Grêmio. Como transformar isso em um time forte? Exatamente transformando a participação em receita.”

Dependência dos resultados de campo

“Há uma relação muito forte das receitas com eles. Entra-se num ciclo perverso. Quando o resultado é ruim, não conseguimos transformá-lo, pois temos menos recursos e investimos menos, o que tende a perpetuar os resultados negativos.

Para modificarmos isso, precisamos de receitas recorrentemente estabilizadas, com uma política de investimentos que gere resultados em médio prazo. Com um time forte, eventualmente não se terá bom desempenho em uma competição. Mas é muito provável que, no conjunto delas, consiga-se os títulos. Este é o nosso grande desafio: encontrar uma equação que gere recursos frequentes e que permita um time competitivo.”

Exemplo europeu

“Estamos desenhando alguns modelos de negócios que tentam reduzir esta dependência do resultado de campo. Alguns times europeus, especialmente o Barcelona quando fez sua reestruturação, enxergaram mecanismos importantes para fazer isso.

Uma das coisas que o clube espanhol tentou foi uma remuneração variável ao próprio corpo de atletas. O Barcelona tem hoje uma quantia básica para os jogadores, que é acrescida quando se consegue os objetivos do futebol. Cada vez que se alcança um resultado, o valor do salário sobe. Não há problema algum em pagar, pois as receitas sobem junto.

O grande problema dos clubes brasileiros é que eles investem antes, fortemente, e se os resultados não chegam, desequilibram-se. As despesas seguem altas e as receitas caem. Entra-se no ciclo perverso, que de alguma forma tem de ser quebrado.”

Visão de clube

“Na Europa, existe um desenho que vê a instituição sistemicamente. Precisa-se integrar todas as áreas. Esse discurso de que o Grêmio é futebol e finanças que se vire não se sustenta. Sem dinheiro, não se faz futebol. Precisamos integrar. Não adianta fazer um esforço financeiro, ganhar um título e na sequência ter de vender todos os jogadores, ficar devendo ou perder crédito. Não é mais inteligente ou responsável fazer isso, mas sim ter competitividade sem comprometer as próximas gestões. É a orientação que temos.”

De quanto tempo o Grêmio precisará para atingir o equilíbrio financeiro?

“Esta resposta cabe à torcida. Se ela aderir aos produtos que vamos apresentar e enxergar que isso é bom para o clube, em um ano estamos com o Grêmio equilibrado. No final da gestão do presidente Duda Kroeff, podemos entregar o clube melhor do que recebemos.”

Quais são os produtos?

“Enxergo uma quebra de modelo de negócio, não apenas um produto em si. Temos de dar vantagem à torcida usando a marca. Vou citar um exemplo: se o Grêmio viabilizar um modelo que seja interessante para uma empresa telefônica, e esta reduzir a tarifa do sócio, pode-se só com isso pagar mensalidades. É o inverso de convocar somente a paixão do torcedor, que assim também teria uma vantagem.

Se ele deixar de ser sócio, perde a vantagem, o que custa mais caro do que continuar contribuindo. Estamos redesenhando uma parceria com nossos patrocinadores e vamos buscar produtos vinculados ao saneamento financeiro do clube.”

O projeto deve ser posto em prática já no início de 2010?

“Sim. Na verdade, a idéia é antiga, mas estamos preparados para conversar com a torcida e expor o plano no início do ano. São grandes expectativas. Nossa parceria com os torcedores é fundamental. Quando se rompe, a nossa vida fica mais difícil e não conseguimos devolver o que eles querem. Nossa preocupação é criar um mecanismo de participação que não só onere o torcedor, mas que lhe traga vantagens.”

Sócios

“Na questão Arena, está se focando muito na situação dos sócios e acesso ao estádio. O Grêmio tem todo o interesse do mundo de preservar os direitos de quem já os tem. O que ocorre é que não podemos pensar em fazer o quadro social crescer com este tipo de vantagem. Já temos mais de 55 mil sócios e a capacidade do Olímpico está esgotada. Se continuarmos crescendo, daqui a pouco teremos um jogo importante com sócios do lado de fora. E aí vão cobrar.

Necessariamente, temos de mudar o modelo e buscar outras categorias, com outros direitos. Não adianta imaginar que será possível sustentar o Grêmio com 55 mil sócios, o que dá uma receita de R$ 1,5 milhão por mês. Isso tem que ser enfrentado de frente.

Temos todo o interesse do mundo em fazer crescer nossa base de sócio, mas temos a ideia de que nosso grande cliente é o torcedor. O Grêmio é a paixão de um grupo muito maior de pessoas, que contribuem com o clube. Queremos um vínculo mais forte com a torcida, estamos projetando produtos de massa, com vantagens para ela, não apenas em relação a acesso ao estádio.”

Investimentos no futebol em 2009

“Não acho que tenhamos exagerado. Se eu disser para os credores que não tenho responsabilidade com eles e vou investir no futebol, estou fazendo uma inconsequência. Mas se eu não investir no futebol e disser que só vou pagar as dívidas, estou cometendo outra. Se eu cortar demais e a torcida sentir que o time não é competitivo, minhas receitas caem mais do que proporcionalmente meus custos, o que significa que a capacidade de pagar dívidas também diminui.”

Venda de jogadores

“Nossa preocupação é tentar o equilíbrio financeiro sem vender jogadores. Ou pelo menos que as vendas não sejam determinadas pela necessidade de caixa, e sim uma decisão do Futebol. Nossa busca pela parceria com a torcida é pelo foco nas finanças, e não na venda de atletas. O Grêmio não quer essa dependência de negociações para sobreviver.”

Propostas do Exterior

“Se as ofertas forem vantajosas para o Grêmio, é uma questão de oportunidade. Tenho que casar o interesse do clube com o do jogador. Quando as propostas se tornam vantajosas demais para o atleta, não há mais como mantê-lo. Como qualquer ser humano, ele ficará frustrado e o rendimento esportivo cai. Mas enquanto elas não forem legais para ambas as partes, não quero depender disso para fazer o fechamento de caixa.”

Contrato com Banrisul

“É um parceiro importante e que se tornará mais ainda. O Banrisul faz parte do redesenho em relação a produtos. Não adianta sermos agentes passivos da nossa marca. As duas são muito respeitadas e precisamos transformar isso em sinergia. Não quero avançar muito, a fase é de exposição de conceitos, mas em breve teremos novidades.”

O repasse de recursos à Dupla Gre-Nal foi praticamente dobrado?

“Em relação ao contrato anterior, sim. Houve outras vantagens. O Grêmio conseguiu recursos adicionais para investimentos, redução de tarifas. É um contrato já vantajoso, mas há muita potencialidade que temos de explorar melhor.”

Dívidas antigas

“Já fizemos um acordo com o Zinho nesse ano. Foram mais de R$ 7,4 milhões. O Grêmio não desencaixou tudo, mas está quitando e no começo de 2010 tem uma parcela importante. Com o Palmeiras, estamos pagando R$ 7,8 milhões, através da ida do Leo. Com o Flamengo, há um débito de valor equivalente, que precisa ser composto. E o Jurídico já me anunciou que está chegando alguma coisa de R$ 4 milhões, em relação ao Leandro Amaral, que provavelmente sejam direitos que ele ganhou na Justiça. Estamos falando em esforço de pagamento de passivos bastante significativo.”

Flamengo

“Nesta dívida com o Flamengo, existe uma situação processual diferente, em que o Grêmio, provavelmente, possa ter sucesso. Na verdade, acho que não devemos nada. Sou dos mais resistentes quanto à qualquer composição.

O Flamengo diz que o Grêmio tinha uma opção de compra do Rodrigo Mendes, na última vez em que ele esteve no Olímpico. O clube não exerceu e o jogador voltou para a equipe carioca, mas não se acertou. Foi para o Exterior e retornou para o Olímpico. O Flamengo diz que houve uma simulação do Grêmio para não pagar esse valor do final de contrato. Nós não fizemos isso. Neste caso, não me sinto confortável para um acordo.”

Condomínio de credores

“Nosso saldo devedor, no fechamento de novembro, é de R$ 17.328.000,00. Assumimos com R$ 24 milhões de dívidas. Então, estamos fazendo o esforço de pagar e foram mais de R$ 7 milhões que demos jeito de honrar. Ao mesmo tempo em que investimos, fora a folha salarial, mais de R$ 17 milhões no Futebol nesse ano. Se quisermos melhorar, firmando a parceria com a torcida, teremos um time competitivo e vamos colocar as contas no lugar em um ano.”

O clube fecha o ano em déficit?

“Até o final de novembro, são R$ 7 milhões. Preciso ver como terminaremos dezembro. No primeiro semestre, fechamos quase no zero a zero. Há algumas circunstâncias que podem reduzir o déficit no encerramento do ano. Talvez cheguemos muito perto do equilíbrio.”

Rafael Carioca

“Temos metade do valor a receber em fevereiro. São € 2,5 milhões. Mas a torcida não pode se animar muito, pois isso entrou na negociação do Zinho. Foi o jeito dele compor; no começo do próximo ano, devemos pagar € 1 milhão para ele. Dos € 2,5 milhões, a parte do Grêmio é € 1,750.000. Se eu descontar o valor do Zinho e o condomínio de credores, não é por aí que vamos conseguir investimento. Continuamos precisando da parceria da torcida.”

Qual é a dívida total do Grêmio?

“O que nos incomoda é uma quantia em torno de R$ 50 milhões. As dívidas fiscais, aproximadamente R$ 70, R$ 75 milhões, não têm peso sobre o caixa, pois estão compostas na Timemania. O que ainda incomoda são as dívidas vencidas. As que estão no prazo fazem parte do dia a dia e temos fluxo de caixa para pagar.

Primeiro pagamos os salários, depois impostos e, na sequência, o valor de competência dos condomínios. Ou seja, o que era direito de determinado condomínio receber por atualização ou pela amortização da venda de jogadores.

Se eu tiver dinheiro para tudo, vejo quem é o prioritário dentre aqueles para quem já estava devendo. O passivo de curto prazo, que devemos cuidar para não vencer, é R$ 50 milhões.”

O Grêmio tem condições de trazer um grande jogador?

“Tem. Sou bem otimista em relação a isso. Mas é preciso fazer de maneira casada com a torcida. Se conseguirmos um produto de massa, com um canal de distribuição poderoso que alcance todos os torcedores, e ligar isso à contratação de um grande jogador, é perfeitamente viável. Não teremos desencaixe, mas sim uma receita vinculada ao reforço.”

A receita do quadro social já é maior que a da TV?

“Em alguns meses de 2009 foi, mas a partir de setembro caiu significativamente. Isso é o que precisamos reverter. Tivemos meses com R$ 2,2 milhões em arrecadação; em novembro, porém, penamos para chegar ao R$ 1,5 milhão.

É o que falei da elasticidade, de evitar o reflexo dos resultados de campo. A torcida fica chateada, mas se isso se transformar em redução do caixa, teremos mais dificuldades, pois não conseguiremos investir. A cobrança não pode ser no caixa, senão a recuperação é mais lenta. Sem dinheiro, não há como. A criatividade sozinha não consegue fazer tudo.”

Um comentário:

  1. O Irany sempre que fala tem propriedade e convence. Parabéns.

    Tenho certeza que 2010 será DEZ!

    As tão sonhadas ações de marketing, quadro social, produtos serão enfim lançadas e com certeza o torcedor dará o retorno, pois focarão o Clube e não apenas o futebol (jogo).

    Além disso, o futebol tende a ganhar algo, afinal copa do brasil é conosco mesmo.

    Se eu como torcedor puder fazer algo mais, to a disposição S E M P R E!

    E tenho dito!

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